quinta-feira, 5 de abril de 2012

Desequilibrio - Parte 1 de 2

Muitos não podem querer enxergar, mas o desequilibrio entre a
racionalidade e a espiritualidade é grande a cada geração.
PONTO DE PARTIDA

Um conjunto de situações e assuntos chegou até a minha pessoa no último mês e que me fizeram – e muito – meditar no conteúdo e na produção desse texto. Sou criticado por possuir textos longos demais - e levo essas críticas de forma bastante construtiva. Creio que esse aqui não receberá dos críticos uma classificação diferente, pois não posso ser tão breve – ou raso demais - em um assunto que possui uma complexidade que varou séculos (e não será nesse simples artigo de um blog que irá esgotar a sua discussão) e que até hoje gera desconforto em alguns meios cristãos e não-cristãos. A racionalidade versus a espiritualidade. E por essa razão o texto será dividido em duas partes.

Em um canal da tevê paga iniciou-se no mês passado uma série chamada TABU BRASIL, sendo o seu foco o de apresentar assuntos polêmicos com suas várias visões e entendimentos por parte de determinados grupos de estudiosos e das pessoas inseridas no polêmico assunto. Já em um livro de apenas 50 páginas de um pastor paulistano que nos apresenta uma forte crítica acerca da perda da intelectualidade cristã (falta da racionalidade), que nas palavras do pastor/autor, ele descreve de forma bastante racional e bíblica que “[...] a superficialidade é um mal de nossa época”, acarretando no campo racional a fraqueza no quesito doutrina cristã nas igrejas evangélicas e em contrapartida ele questiona também a forte onda da “espiritualidade emocional” que, também nas palavras dele, “[...] só promovem o culto das experiências emocionais”. Outro livro, esse sendo bem maior em número de páginas, um pastor americano – teólogo e referência na visão cristã contemporânea e produtor de uma versão da Bíblia chamada ‘A Mensagem’ – leva-nos por meio de uma coletânea de materiais produzidos ao longo de vinte e cinco anos sobre a teologia espiritual como artigos, estudos, entrevistas e leituras que leva-nos ao resgate – em boa hora em sua opinião – da indispensável teologia espiritual como fonte de renovação de uma vida cristã despertando em nós leitores “[... ] a paixão pela transformação do mundo”.

A CATARSE COLETIVA

No TABU BRASIL, série apresentada no canal da tevê paga National Geographic Chanel, que em seu primeiro episódio apresenta-nos crianças que vivem uma infância incomum para suas idades. Uma menina de apenas 05 anos que vive no mundo fashion das missis mirins, crianças ciganas que são predestinadas a casamentos desde cedo sem conhecer o seu parceiro, e a última que será o foco nesse texto. Seu nome é Alana, mais conhecida na região de São Gonzalo, Rio do de Janeiro, como a “missionarinha” uma menina de apenas 06 anos de idade que dizem ter poderes sobrenaturais de cura e que os usa nos culto da Igreja Pentecostal dos Milagres, na qual o seu pai é o pastor e o seu tio o fundador.

Essa criança citada com poderes sobrenaturais atende por dia, em média, mais de 250 pessoas que a procuram por um milagre. Infelizmente, na reportagem a ênfase é dada diretamente na menina e não – para aqueles que acreditam – no Espírito Santo de Deus que atua por meio dela. A narração refere-se ao público de forma muito crítica sinalizando-os como pessoas que vivenciam as suas catarses pessoais e coletivas, ou seja, uma explosão frívola e dramática de suas emoções contidas e, assim, deixando uma questão de dúvida acerca da veracidade do poder da “missionarinha” Alane. A criança possui até uma página na internet em que a promessa é clara no home: “Ela toca e o milagre acontece!”. Pelo seu toque, seu sopro nas pessoas ou durante as suas orações nos cultos, a “missionarinha” promove os ditos milagres que sustentam o nome da igreja.

O “dom da cura” – o qual os pais alegam que sua filha possui e os incrédulos não acreditam - que foi dado por Deus para a Alane começou a ser desenvolvido desde os 03 anos de idade. Já nessa tenra idade a “missionarinha” já empunha as mãos nos enfermos e esses eram curados para a alegria dos fiéis e assim dando surgimento as mais variadas acusações de charlatanismo contra os pais dela. A sua mãe, a Sandra, era estéril e essa já alega que a sua gravidez já foi um milagre. O site de Alane possui mais de 2 milhões de acessos sendo os três países que mais visitam estes: Brasil, EUA e a China, sendo esse último a saber um dos países que mais perseguem os cristãos e chegam até a matar os que se convertem aos cristianismo. Os que acreditam, percebem aqui o “mover de Deus” para os chineses que buscam a fé em Jesus.

Em maio de 2011 o SBT em seu programa, o Conexão Reporter com o Roberto Cabrini, apresentou uma reportagem sobre Alane. Clique aqui para assistir e avalie-o tirando suas próprias conclusões.

A CRISE INTELECTUAL

O pastor Sandro R. Baggio em sua obra intitulada “Intelectualidade Cristã em Crise – A síndrome da ignorância”, discorre num discurso – que não é tão novo, mas, sim, em uma nova roupagem - de alerta acerca da crise doutrinária que vem sofrendo há anos as igrejas evangélicas. Sendo os seus nove capítulos intitulados nesta sequência: (1) a síndrome da ignorância, (2) a letra mata... mas a ignorância também, (3) o culto das experiências emocionais, (4) rebaixando o cristianismo, (5) os perigos do antiintelectualismo, (6) uma nova espiritualidade, (7) a nobreza da intelectualidade, (8) o testemunho eficaz, e, finalizando com (9) cristianismo raso.

Os capítulos não são longos e possuem uma produção escrita bem acessível, tornando o livro bem fácil de ser lido, compreendido e de termina-lo em uma única abertura de página, algo que facilmente pode ser feito, pois possuí como já citamos acima, só 50 páginas. Essa pequena obra, entretanto, grande em conteúdo intelectual e crítico, cativou-nos de forma tremenda até porque de fato muitos de nós já viveram (alguns ainda vivem), já leu ou ouviu acerca da crise doutrinária e nas demais áreas das igrejas evangélicas, no empobrecimento (por não ter um preparo adequado e profundo) do pregar a Palavra, nos louvores absurdos que estão sendo entoados sem profundidade de conteúdo ou mesmo espiritual, tornando-se tão somente – como já são apelidados – mantras cristãos (!), e, nas palavras do pastor/autor do livro que vamos reproduzir este breve trecho acerca das “ministrações”: “ A forte ênfase na unção, na “ministração”, muitas das vezes carregada de emocionalismo [...] O ponto alto do culto não é mais a exposição clara e objetiva da Palavra [...] O clímax em determinados cultos são as “ministrações” [...] para muitos o mais importante não é a Palavra, mas sim na experiência emocional por meio da ministração [...] ficando a Palavra em segundo plano sendo que essa é que é a verdadeira e que penetra no mais íntimo do coração do homem [...]”.

Vejam que o livro “dá um soco” no estômago de muitos (e nós o sentimos também!) levando por meio de uma exposição clara e objetiva a crise que ocorre em algumas igrejas evangélicas que estão tornando-se pobres intelectualmente e enganando-se achando que estão aprofundando-se espiritualmente. Mas, pelo contrário, estão mesmo é na superfície do emocionalismo barato e que distanciam as pessoas da verdadeira espiritualidade vinda de Deus. É importante citar que o autor não é contra a espiritualidade. Ele é contra a “fantasia” e o “encanto” que estão tornando-se os cultos por falta de estudos adequados, na propagação de que não é necessário haver razão ao meio da emoção. Indicamos esse livro para que você possa avaliar-se e quem sabe até apresentá-lo aos seus líderes. Ore antes de entregá-lo, pois vai que a sua igreja esteja vivenciando essa crise.

Continua na próxima postagem "Equilibrio - Parte 2 de 2"

Em Cristo Jesus,

JC

2 comentários:

  1. Jean,

    Texto baseado no contexto espiritual contemporâneo, faz-se mister entender o que os cristão realmente buscam nas Igrejas, e o que estas, têm a oferecer. Necessitamos de FÉ, ESTUDO e DISCIPLINA a fim de que possamos progredir em Fé e ciência sobre DEUS e suas manifestações no mundo atual e construirmos a solidez necessária para bem fazer e ser O REINO DE DEUS!
    Obrigada por palavras tão auspiciosas e sólidas de conteúdo rico, prudente e organizado!

    ResponderExcluir
  2. Graça e paz irmão!

    A cada dia que passa me deparo com mais e mais atitudes de IDOLATRIA para com alguns ministérios de louvor existentes no "mercado" fonográfico. Sinto dentro de mim um saudosismo ao ouvir louvores antigos que serviam como palavra evangelizadora, e não apenas como mais um "louvor emocionalmente lindo que toca meu coração". Não digo que esse ou aquele é melhor, tampouco estou fazendo alusão à que o passado era melhor, apenas penso que a superficialidade emocional realmente contaminou a igreja de Cristo. Por outro lado, numa visão mais otimista, a palavra de Deus, apregoada ou levada por meio de ministrações de louvor, nunca esteve tão próxima das pessoas, mais acessível. Infelizmente muitos ministérios esqueceram-se que TUDO, mas TUDO que entoamos é para HONRA E GLÓRIA DO ALTÍSSIMO DEUS, e não apenas para sucesso pessoal. Cantar sobre Deus num mix de "sucesso secular" e "valorização artística" nos afasta MAIS e MAIS do real objetivo de estarmos fazendo isso: SERMOS SALVOS! IMITARMOS A CRISTO! ELE É E SEMPRE SERÁ O ÚNICO E MAIOR DE TODOS OS OBJETIVOS!!!!

    Que a graça do Salvador transborde em nós por meio do Espírito Santo.....amém!


    Eddy

    ResponderExcluir